sábado, 1 de março de 2008

Um dia no Portugal não muito profundo

Hoje acordei e como tinha que ir buscar o carro a casa dos meus país resolvi ver os horários dos comboios entre Porto e Famalicão. Fiquei desiludido com o numero de comboios por dia....devo estar mal habituado. Depois, já que os horários dos autocarros nao me permitiam ver os horários de fim-de-semana fui á sorte para a central de camionagem para ver se tinha um autocarro antes de um comboio. E sorte a minha, tinha um autocarro para Guimaraes e aproveitei.

Pelo caminho ia distraído a ler o público, desta vez com a atenção devida, não fosse o hedgyinpangea aparecer de novo....ou outro conhecido....o tema era os professores....nem foi preciso procurar.

Quando cheguei a Guimaraes apanhei uma seca de 45 minutos para apanhar o autocarro para Famalicão. Ou seja, no total, uma viagem que demora 30 minutos de carro, de autocarro (via autoestrada) demora duas horas. Pior, alguns dias atrás tinha ido por Famalicão, e demora um pouco mais. Isto porque a estação de comboios e a de autocarros ficam em extremos opostos da cidade, demorando cerca de meia hora a pé. Já para não falar na aventura do passado fim-de-semana em que Joane-Vairão (40 minutos de carro) demorou 3 horas de trasporte publico e a pé. Podemos dizer que é o preço da interioridade de viver a 30KM do litoral.

Enquanto estou na estação de autocarros de Guimarães á espera, há um autocarro parado durante 10 minutos a trabalhar do qual saia uma fumarada impossivel. Cheguei mais de perto e percebi que era um autocarro de 89, assim como se diz por aquelas bandas todo quitado para parcer novo. Era o meu! O motorista, um senhor de uns 45 anos já atrasado sai a correr para deixar o dinheiro da viagem anterior no escritório. Volta e nota-se a dificuldade que tem em lidar com a máquina que tira os bilhetes, maldita electrónica. Vai buscar o livro de instruções e nota-se a sua insegurança misturada com o nervosisimo de estar já 10 minutos atrasado. Entrei e reparei que os assentos nao deixam enganar com a idade do autocarro. Mas foi o motorista que me impressionou. Foi o motorista atrapalhado simpático e que parecia boa pessoa, atrapalhado com a electrónica e com o atraso que mexeu comigo. Ainda agora tenho a imagem na cabeça. Chego e vou pagar o concerto do carro no mecânico. O homem parece deprimido, diz que as finanças andam em cima dele e por isso tem que ter tudo legal e passar factura, o que agrada. Passa uma factura á mão que demora uma eternidade. Enquanto isso vai-me dizendo que não sabe passar a computador e que a filha, que tinha essa tarefa, teve que arranjar um emprego fora da oficina do pai, porque o que ele ganha nao chegava para lhe pagar o ordenado. Lá está o IVA de 21%. É a minha pequena contribuição para o estado. E tudo isto fez renascer a imagem de onde nasci e em parte cresci. DE um Portugal a 30 Km do POrto, a região com maior desemprego do país.

Há empresas que substituiram quase todos os seus funcionarios com mais de 50 anos, por pessoas com o 12º ano. Parece que a bem da produtividade, o que espero que seja verdade. Mas penso também nas milhares de pessoas que se vêm sem emprego e sem a esperança de arranjar um, com tão poucas quaificações. Dedicaram-se quase 30 anos a trabalhar para uma empresa, era parte da vida deles. E a idade da reforma ainda tão longe.

É nestas pessoas que penso hoje porque vejo que graças ao trabalho deles, ao seus impostos e descontos muitos de nós podemos estudar (eu por exemplo), através do acesso ao ensino público e no fundo são também eles a pagar a factura da modernização. Muitos deles nunca tiveram um oportunidade para estudar mais que a quarta classe. Teria inevitavelmente que ser assim? Penso que não. Falta um pouco de humanismo e tempo para pensarmos nestas pessoas.
Pessoas com 50 anos podem desempenhar determinadas tarefas uteis á sociedade.

Mas para mim foi um certo choque. O perceber que o Rui, o cidadão europeu que viveu no Porto e agora em Barcelona, cehgou aqui devido á contribuição de muita gente que hoje está a pagar a factura. E sinto que tenho que arranjar um modo de retribuir.

Ficamos todos fascinados com as viagens e diários do Che (eu próprio), mas depois percebo que num só dia e não no Portugal assim tão profundo percebo que o país está doente. E muito. O país europeu que todos apregoam existe apenas para alguns e nesse sentido a integração falhou e os políticos falharam.

É impossível ignorar. Os políticos que conheçam o país mas sós, sem os seus seguranças, sem os seus, carros, sem os seus hoteis, sem a escolta da polícia, sem tudo pago e vejam o que é a realidade de muitos portugueses.

De facto, isto está a bater no fundo e não vejo grandes remédios. Qualquer dia com as cameras, as pessoas e o estado todo endividado só vais restar aos políticos portugueses, mesmo antes do barco ir ao fundo..entregar (ou melhor vender) o que temos á Europa. Os que estão a destruir o nosso país vão ser os primeiros a fugir e de bolsos cheios para qualquer outro lugar na política europeia.

Onde andam os estudantes? A praxar? Acordem para a vida, tomem atitudes, Geração Playstation!

A nossa geração tem mesmo que fazer algo. Não podemos ser tão passivos a ver tudo isto a acontecer. É que se não fizermos nada os incompetentes que lá estão vão continuar até que por nossa omição a geração playstation já não queira brincar mais e tome uma atitude. Aí, os que lá estão serão julgados por incompetência e nós, infelizmente, por passividade.

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